Olga Benário
Em 12 de fevereiro de 2014 completaram-se 106 anos do nascimento de Olga Benario Prestes
Olga Benário
Prestes
Mulher linda, alta, de cabelos escuros e olhos azuis, Olga nasceu em Munique,
cidade alemã. Desde cedo participou de atividades comunistas e, graduada pelo
KOMINTERN – a Terceira Internacional – recebeu a mais importante tarefa de sua vida:
participar da realização de uma Revolução Comunista no Brasil. No Brasil, já casada com Luís
Carlos Prestes, líder do movimento que entrará para a história brasileira como
“Intentona Comunista”, Olga foi fundamental para o andamento da revolução.
Morando no Rio de Janeiro, através das inúmeras reuniões, conviveu com todos os
integrantes da liderança do movimento no meio do qual nasceram grandes
amizades.
Com o fracasso da revolução e a sua conseqüente prisão, Olga, grávida de sete meses, é entregue a Hitler por Vargas. Sendo deportada para a Alemanha e longe do Brasil, país que aprendeu a amar e respeitar, Olga Benario tem sua primeira e única filha, Anita Leocádia, uma alegria no meio de tanto sofrimento. Em um campo de concentração da Alemanha nazista, Olga vivencia os últimos dias de sua vida. Morta por um gás letal, ela ainda vive, mas como uma importantíssima pessoa que deixou o seu valor na história do comunismo mundial e que fez do seu ideal de vida um sonho para vários povos de todo o mundo.
Tempos de Conspiração : Membro do Partido Comunista e namorada de Otto Braun, em 1926 liderou o processo de sua remoção da prisão de Moabit, onde estava retido sob acusação de conspiração contra o Estado e alta traição. Tornou-se vital o seu exílio na União Soviética. Em Moscou o casal se instalou no Hotel Desna, a seguir foram transferidos para um edifício destinado aos jovens estrangeiros. Duas semanas após ter chegado a Moscou, Olga e Otto participam de um curso de formação política e, quando chamada ao palco para dar o seu depoimento sobre os eventos de Moabit Olga, muito emocionada e aplaudida, confessou:
Com o fracasso da revolução e a sua conseqüente prisão, Olga, grávida de sete meses, é entregue a Hitler por Vargas. Sendo deportada para a Alemanha e longe do Brasil, país que aprendeu a amar e respeitar, Olga Benario tem sua primeira e única filha, Anita Leocádia, uma alegria no meio de tanto sofrimento. Em um campo de concentração da Alemanha nazista, Olga vivencia os últimos dias de sua vida. Morta por um gás letal, ela ainda vive, mas como uma importantíssima pessoa que deixou o seu valor na história do comunismo mundial e que fez do seu ideal de vida um sonho para vários povos de todo o mundo.
Tempos de Conspiração : Membro do Partido Comunista e namorada de Otto Braun, em 1926 liderou o processo de sua remoção da prisão de Moabit, onde estava retido sob acusação de conspiração contra o Estado e alta traição. Tornou-se vital o seu exílio na União Soviética. Em Moscou o casal se instalou no Hotel Desna, a seguir foram transferidos para um edifício destinado aos jovens estrangeiros. Duas semanas após ter chegado a Moscou, Olga e Otto participam de um curso de formação política e, quando chamada ao palco para dar o seu depoimento sobre os eventos de Moabit Olga, muito emocionada e aplaudida, confessou:
"_ Eu gostaria que vocês
soubessem que ali eu cumpri duas tarefas: uma do partido e outra do meu
coração."
Era a consagração de Olga.
Passa a crescer no Partido e suas atribuições aumentam correspondentemente, o
que leva Otto à exasperação dos ciúmes. Ao final de 1931, Olga seria
escalada para sua primeira missão internacional, em Paris. A notícia de que
Olga ficaria fora por tempo indeterminado devido a uma operação internacional,
foi a gota d’água para Otto. Eles romperam o romance e Otto contou que tinha
outra mulher. Foi quando Olga percebeu em si, pela primeira vez, o sentimento
que tanto condenava no companheiro: ciúme. E é também se remoendo em ciúmes que
ela viaja a Paris. Voltando a Moscou, recebe a
notícia de que lhe haviam dado o mais alto cargo da hierarquia de uma
organização comunista. Tinham acabado de aclamá-la como presidente de sua
Célula, por unanimidade. A seguir, um prêmio: Olga participou – sempre com
grande entusiasmo – de um curso de pára-quedismo e pilotagem de aviões. Após
uma simulação de vôo, ela ouviu um latino-americano contando o caso da “Coluna
Prestes” e ficou impressionada com o feito: 25 mil quilômetros a pé,
enfrentando tropas regulares de um governo ditatorial, contra ele lutando
sempre mas terminou sem lograr seu propósito principal, mas sem jamais sofrer
uma única derrota. Não imaginavam que Prestes estava ali mesmo, em Moscou, a
poucos metros de distância de onde se encontravam.
Prestes estava ali na condição de engenheiro. Sua vida não era simples; a ele não eram destinadas algumas das regalias oferecidas que o governo soviético ofertava às altas autoridades comunistas de outras partes do mundo. Nas horas vagas, participava de conferências ou reuniões do Partido Comunista e foi num desses encontros que ouviu falar em Olga pela primeira vez.
Foi com grande felicidade que, em fins de 1934, Prestes recebeu a notícia de que ingressaria no Partido Comunista Brasileiro devido, inclusive, à pressão de Moscou neste sentido – à ocasião, havia divergências contra ele dentro do Partido no Brasil. Sua primeira missão para o KOMINTERN: liderar uma revolução que tirasse o Brasil da ditadura do Estado Novo e do Capital e o inserisse no mundo feliz do comunismo internacional. Olga foi designada chefe de sua segurança pessoal.
Prestes estava ali na condição de engenheiro. Sua vida não era simples; a ele não eram destinadas algumas das regalias oferecidas que o governo soviético ofertava às altas autoridades comunistas de outras partes do mundo. Nas horas vagas, participava de conferências ou reuniões do Partido Comunista e foi num desses encontros que ouviu falar em Olga pela primeira vez.
Foi com grande felicidade que, em fins de 1934, Prestes recebeu a notícia de que ingressaria no Partido Comunista Brasileiro devido, inclusive, à pressão de Moscou neste sentido – à ocasião, havia divergências contra ele dentro do Partido no Brasil. Sua primeira missão para o KOMINTERN: liderar uma revolução que tirasse o Brasil da ditadura do Estado Novo e do Capital e o inserisse no mundo feliz do comunismo internacional. Olga foi designada chefe de sua segurança pessoal.
O Primeiro Amor de Prestes: Olga e Prestes vão para
Leningrado, onde chegam às 8 horas da manhã do dia seguinte. À noite, partem para
Helsinque, e de lá, para Estocolmo. Olga, por medida de segurança, decide que
irão passar a noite em Amsterdã onde um contato poderia fornecer-lhes
documentação segura. O casal ficou três semanas a espera do contato em Amsterdã
mas, considerando o perigo de ficar tanto tempo em um só lugar, decidem-se por
partir, como estavam, para Bruxelas.
As três primeiras semanas de viagem permitiram que o casal se conhecesse melhor. O medo de serem descobertos e presos, levou Olga a querer sair também de Bruxelas. Tomaram um trem e deslocaram-se a Paris. Viajariam como um casal em lua-de-mel.
As três primeiras semanas de viagem permitiram que o casal se conhecesse melhor. O medo de serem descobertos e presos, levou Olga a querer sair também de Bruxelas. Tomaram um trem e deslocaram-se a Paris. Viajariam como um casal em lua-de-mel.
O contato que eles acabaram por
perder em Amsterdã e Bruxelas finalmente aparece em Paris. No dia 8 de março,
recebem documentos novos e fazem mais alguns ajustes a fim de solidificar sua
aparência de plena legalidade. Nada melhor para isso como um visto de
entrada... nos EUA! O consulado norte-americano em Paris concedeu o visto sem
problemas, na terceira semana de março viajaram usando as identidades de
Antônio Vilar e Maria Bergner Vilar.
A fachada que usavam – recém-casados – obrigava Olga e Prestes a intimidades imprevistas. Um casal em lua-de-mel não apenas dorme no mesmo quarto, mas na mesma cama. Além disso, aproximava-os a afinidade intelectual e política, cada vez maior entre os dois, além do fato de serem jovens, bonitos e entusiasmados com a perspectiva de estarem às portas da revolução. Para um homem de 37 anos, Prestes vivera precocemente toda a sorte de experiências políticas: liderara uma rebelião militar, conspirara contra governos, fora preso e exilado, convivera com os mais importantes dirigentes comunistas na União Soviética. Mas o rigor, a disciplina e a dedicação à causa tinham cobrado dele um preço alto: até então Luís Carlos Prestes nunca tinha estado com uma mulher. A orfandade prematura levou-o, aos dez anos de idade, a tornar-se o chefe de sua família. O pouco tempo que lhe sobrava da escola militar era dedicado aos estudos. A mãe não permitira que ele trabalhasse: preferia ela fazê-lo, com a condição de que o filho se entregasse aos livros e fosse o primeiro aluno da classe. A vida da família suburbana do Rio de Janeiro era tão difícil que ele teve de obter permissão especial para andar fardado fora da Escola Militar: Prestes não dispunha sequer de trajes paisanos para vestir. Durante a Coluna ele se sentira na obrigação, enquanto comandante, de dar o exemplo de disciplina: ao contrário de muitos de seus comandados, não se envolveu com as mulheres que acompanharam a marcha. A política e a preocupação com a educação das quatro irmãs tinham-lhe roubado todo o tempo. E se Prestes chegara aos 37 anos sem ter tido uma namorada, uma paixão, uma mulher, não poderia haver circunstância mais propícia para começa: estava em alto mar, num camarote luxuoso, acompanhado de uma belíssima mulher, comunista e revolucionária como ele. Quando o Ville de Paris atracou no porto de Nova York, na manhã de 26 de março de 1936, o que até então era uma ficção, montada pela Internacional Comunista, tinha virado realidade: Como seus personagens Antônio Vilar e Maria Bergner, Prestes e Olga eram marido e mulher. Passaram a lua-de-mel em Nova York. Pegaram um trem para Miami, onde iniciaram a viagem para o Brasil, passando por Santiago e Buenos Aires, via aérea. Na Argentina, arrumaram toda a documentação para entrar no Brasil. Assim, na madrugada do dia 15 de abril, os dois embarcaram no aeroporto Santos Dumont. Quando o dia amanheceu o avião já voava baixinho. Um avião não tem grandes janelas, somente pequeninas escotilhas. Foi através delas que Olga teve seu primeiro alumbramento com o Brasil. Habituada à Europa, ela nunca imaginara tal luminosidade - um sol fortíssimo batia sobre o verde escuro da mata e o azul do mar, divididos pelo risco branco e interminável da areia da praia.
A fachada que usavam – recém-casados – obrigava Olga e Prestes a intimidades imprevistas. Um casal em lua-de-mel não apenas dorme no mesmo quarto, mas na mesma cama. Além disso, aproximava-os a afinidade intelectual e política, cada vez maior entre os dois, além do fato de serem jovens, bonitos e entusiasmados com a perspectiva de estarem às portas da revolução. Para um homem de 37 anos, Prestes vivera precocemente toda a sorte de experiências políticas: liderara uma rebelião militar, conspirara contra governos, fora preso e exilado, convivera com os mais importantes dirigentes comunistas na União Soviética. Mas o rigor, a disciplina e a dedicação à causa tinham cobrado dele um preço alto: até então Luís Carlos Prestes nunca tinha estado com uma mulher. A orfandade prematura levou-o, aos dez anos de idade, a tornar-se o chefe de sua família. O pouco tempo que lhe sobrava da escola militar era dedicado aos estudos. A mãe não permitira que ele trabalhasse: preferia ela fazê-lo, com a condição de que o filho se entregasse aos livros e fosse o primeiro aluno da classe. A vida da família suburbana do Rio de Janeiro era tão difícil que ele teve de obter permissão especial para andar fardado fora da Escola Militar: Prestes não dispunha sequer de trajes paisanos para vestir. Durante a Coluna ele se sentira na obrigação, enquanto comandante, de dar o exemplo de disciplina: ao contrário de muitos de seus comandados, não se envolveu com as mulheres que acompanharam a marcha. A política e a preocupação com a educação das quatro irmãs tinham-lhe roubado todo o tempo. E se Prestes chegara aos 37 anos sem ter tido uma namorada, uma paixão, uma mulher, não poderia haver circunstância mais propícia para começa: estava em alto mar, num camarote luxuoso, acompanhado de uma belíssima mulher, comunista e revolucionária como ele. Quando o Ville de Paris atracou no porto de Nova York, na manhã de 26 de março de 1936, o que até então era uma ficção, montada pela Internacional Comunista, tinha virado realidade: Como seus personagens Antônio Vilar e Maria Bergner, Prestes e Olga eram marido e mulher. Passaram a lua-de-mel em Nova York. Pegaram um trem para Miami, onde iniciaram a viagem para o Brasil, passando por Santiago e Buenos Aires, via aérea. Na Argentina, arrumaram toda a documentação para entrar no Brasil. Assim, na madrugada do dia 15 de abril, os dois embarcaram no aeroporto Santos Dumont. Quando o dia amanheceu o avião já voava baixinho. Um avião não tem grandes janelas, somente pequeninas escotilhas. Foi através delas que Olga teve seu primeiro alumbramento com o Brasil. Habituada à Europa, ela nunca imaginara tal luminosidade - um sol fortíssimo batia sobre o verde escuro da mata e o azul do mar, divididos pelo risco branco e interminável da areia da praia.
Prestes e Olga desembarcaram em
Florianópolis, pegaram um taxi até Curitiba, de lá pegaram outro, com destino a
São Paulo, onde se hospedaram num confortável hotel no largo do Arouche. Mais
tarde Olga travou conhecimento com um simpatizante, o excêntrico milionário
Pavarenti, que os levou para a sua casa de campo no bairro de Santo Amaro. No
dia seguinte, Miranda, secretário-geral do partido comunista, recebia a notícia
de que Prestes estava no Brasil.
Ao Brasil, atravessando percalços
Anúncios em jornais de todo o mundo e todos os matizes ideológicos da época, dizendo que Prestes estaria retornando ao país, levaram Getúlio Vargas a exigir da polícia política redobrada precaução. Filinto Muller, chefe de polícia da cidade do Rio de Janeiro, na prática uma espécie de “ministro da Justiça” de Getúlio, incumbiu-se de organizar os órgãos de segurança estatal para “recepcionar” o casal. Contudo, não apenas os órgãos de segurança os aguardavam. Além de Prestes e de Olga, um pequeno grupo de comunistas internacionais iniciava viagens discretas e sinuosas. Um dos participantes, Arthur Ewert, era antigo conhecido de Olga. Junto com ele, sua mulher Elise, apelidada de Sabo; o argentino Rodolfo Ghioldi, de pseudônimo de Luciano Busteros, e sua mulher Carmem Ghioldi, que viajava com seu nome verdadeiro; o norte-americano Victor Allen Barron; os belgas León-Jules Vallée e sua mulher Alphonsine, com os nomes verdadeiros; o alemão Paul Gruber e sua mulher Érika. A larga experiência do grupo – pequeno mas qualitativo – enviado ao Brasil era prova cabal da completa credulidade que a União Soviética havia depositado no sucesso da insurreição no Brasil Mãos à Obra!
Anúncios em jornais de todo o mundo e todos os matizes ideológicos da época, dizendo que Prestes estaria retornando ao país, levaram Getúlio Vargas a exigir da polícia política redobrada precaução. Filinto Muller, chefe de polícia da cidade do Rio de Janeiro, na prática uma espécie de “ministro da Justiça” de Getúlio, incumbiu-se de organizar os órgãos de segurança estatal para “recepcionar” o casal. Contudo, não apenas os órgãos de segurança os aguardavam. Além de Prestes e de Olga, um pequeno grupo de comunistas internacionais iniciava viagens discretas e sinuosas. Um dos participantes, Arthur Ewert, era antigo conhecido de Olga. Junto com ele, sua mulher Elise, apelidada de Sabo; o argentino Rodolfo Ghioldi, de pseudônimo de Luciano Busteros, e sua mulher Carmem Ghioldi, que viajava com seu nome verdadeiro; o norte-americano Victor Allen Barron; os belgas León-Jules Vallée e sua mulher Alphonsine, com os nomes verdadeiros; o alemão Paul Gruber e sua mulher Érika. A larga experiência do grupo – pequeno mas qualitativo – enviado ao Brasil era prova cabal da completa credulidade que a União Soviética havia depositado no sucesso da insurreição no Brasil Mãos à Obra!
Assim que chegaram ao Rio de
Janeiro, Olga e Prestes se hospedaram num hotel e passam a procurar casa para
morar. Escolhem uma na Rua Barão da Torre, nas imediações da casa dos Ewert.
Devidamente instalados, encontraram-se pela primeira vez com seus companheiros
na casa dos Ewert, e ali mesmo distribuem as tarefas iniciais: Erika
trabalharia como datilógrafa na casa de Ewert e, quando necessário, como
motorista dos Villar; Gruber, técnico em explosivos, instalaria num
pequeno cofre da casa de Prestes e Olga um sistema de alarme eficiente, capaz de
impedir o acesso de estranhos ao dinheiro e à documentação ali depositada;
Victor Barron, especialista em radiotelegrafia, ficaria com a tarefa de
construir um radiotransmissor para que os revoltosos pudessem comunicar-se
entre si, e com o KOMINTERN. León-Jules Vallée e sua mulher cuidariam das
finanças.
Na década de 20, o Movimento
Revolucionário da recém fundada Aliança Nacional Libertadora ganhava adeptos
das classes desfavorecidas da sociedade da época.
Seus ideais eram baseados na
luta contra o fascismo, contra o imperialismo, o subdesenvolvimento e o
latifúndio. A ANL contava com organizações diferentes: de operários,
comunistas, socialistas, liberais, cristãos e os militares experientes das
revoltas tenentistas, de 1922 a 1924. Tinha como líder Luís Carlos Prestes que,
na presidência, estimulava a agitação aliancista. O movimento ganhava força de
uma verdadeira revolução. Os aliancistas iam para as ruas, faziam passeatas
deixando claro seu propósito de atingir o governo.
O avanço da ANL assustava o
governo Vargas. Uma carta enviada por Luís Carlos Prestes propondo uma
revolução foi o pretexto para Vargas decretar a ilegalidade do PCB e da Aliança
como partido. A polícia tentava descobrir o paradeiro do presidente da Aliança
que, devido a um golpe comunista, conseguiu simular a sua estadia no exterior.
Isto fez o governo desviar as atenções dos manifestantes.
Começa a mobilização
O golpe desferido pelo
governo abalou o movimento. Vários dos revoltosos abandonaram a Aliança. A ANL passara
a ser um aparelho clandestino mantido basicamente pelos comunistas
revolucionários. Cabia a Prestes executar na ANL as decisões que o partido
tomava. A predominância do Partido
Comunista sobre a Aliança, juntamente com a linha insurrecional, que passou a
orientar o movimento, provocou a natural deserção dos burgueses ali a
contrabando. O tom da carta de Miguel Costa, companheiro da Coluna, é de
despedida. Ele propõe a continuação da luta na legalidade, dando sugestões: a
criação de organizações partidárias em cada estado, com programas iguais a da
ANL só que com outra denominação. Prestes envia uma carta para Miguel pedindo a
ele que permaneça na ANL e mantém a defesa intransigente da tomada do poder. A
despeito dos fatos informarem o contrário, Prestes considerava que a revolução
estava próxima...
Jornais
conservadores denunciavam a presença de Prestes em vários pontos do país. A
imprensa Comunista praticava a contra-informação neste sentido: publicava, por
exemplo, que Prestes estava fora do Brasil. O movimento revolucionário ocorreu
de maneira assíncrona, surpreendendo mesmo os líderes. Infelizmente, porém, a
correlação de forças estava muito mais favorável a Vargas naquele instante.
Em 23 de novembro, soldados e sargentos do vigésimo
primeiro batalhão de caçadores de Natal tomavam a guarnição militar da cidade.
O jornal Liberdade anunciava que o poder havia passado para a ANL e estava
instalado o Governo Popular Revolucionário. Vários fatos se sucederam. A
revolução durou 5 dias. Houve movimentos revolucionários em vários pontos do
Brasil, como o de Recife, por exemplo, que durou 48 horas. Olga, Prestes e os
demais camaradas se reuniram para decidir o que fazer a respeito das revoltas
não programadas.
Todos eram contrários ao início da insurreição como
estava se dando. Todos, exceto Prestes. Depois de uma grande discussão,
decidiu-se por iniciar a insurreição no Rio de Janeiro; Prestes teve o voto de
Minerva sob o argumento de que a Marinha estava ao seu lado. Decidiram o plano
da revolução. Prestes despachou mensageiros para todas as guarnições onde havia
oficiais aguardando ordens para o início do levante. Decidiu também que era
necessário uma nova casa para ele e Olga, na zona norte, mais próxima ao
complexo da Vila Militar. Mandou Miranda orientar Barron, para por o rádio em
funcionamento a fim de poderem informar ao KOMINTERN a decisão do levante. No
momento que os revoltosos tomassem as unidades, poucos minutos seriam
suficientes para que Prestes assumisse, da Vila Militar, o controle de toda a Nação.
Prestes redigiu um manifesto informando sobre seus
propósitos e convocando a população à adesão. Pela primeira vez se admitia sua
presença no Brasil. Ele e Olga se mudaram para a casa nova. À noite do dia 26
de novembro, Barron ligou a estação de rádio e transmitiu ao KOMINTERN a
decisão sobre a eclosão do levante. A revolução comunista brasileira começaria
às 3 horas da madrugada do dia 27 de novembro.
Mesmo entre companheiros, todo o cuidado é pouco...
Na prática, a revolução começou às 3h e foi abandonada
às 13h. Nenhuma das guarnições da Vila Militar se levantou. A revolta ficou
restrita ao 3º Regimento de Infantaria, e foi sufocada em poucas horas.
Teve suas poucas horas de aparente glória, o que
não conteve a repressão por parte das forças governistas. Antes mesmo da
rebelião, o Brasil já estava em Estado de Sítio decretado por Vargas. Esta
situação se prolongou e, com ela, a repressão aos comunistas, tão grande que
lotou as cadeias em pouco tempo. Mesmo assim, um mês depois de desencadeada a repressão,
alguns dos líderes do movimento ainda estavam ilesos. A 26 de dezembro foram
presos Arthur Ewert e Sabo. Ao saber de tal fato Olga e Prestes se mudaram com
receio de também serem encontrados. Athur Ewert e sua esposa foram submetidos a
tantas torturas e sevícias que ele ficaria completamente louco. Ewert tinha esperança de que a polícia brasileira
não conhecesse sua verdadeira identidade, porém Filinto Muller já a havia
conseguido com o Serviço de Inteligência Britânica.
Junto com uma montanha de
papéis, documentos, manuscritos, cartas e bilhetes apreendido na casa de Ewert,
a polícia conseguiu com a doméstica Deolinda Elias informações sobre todos os
freqüentadores da casa. Conseguiram o endereço de Prestes, invadiram sua casa e
abriram o cofre. Com a falha dos dispositivos instalados Paul Gruber
descobriu-se ser agente do MI-5, o serviço secreto britânico, infiltrado. Ele e
sua mulher, Erika, tinham conhecimento de praticamente todos os planos da
insurreição de 27 de novembro.
Filinto Muller folheou, os
documentos apreendidos na casa de Olga e Prestes em Ipanema. O acervo
encontrado pela polícia na casa de Arthur Ewert não era menos abundante. No
entanto, alguns documentos chamaram particularmente a atenção dos policiais: os
relatórios minuciosos sobre a vida pessoal e as atividades de delegados da
polícia política e o salvo conduto dado por Prestes a Berger na véspera da
revolta.
Muller passou mais uma vez pela
antiga casa de Olga e Prestes, e deu uma enigmática ordem aos investigadores:
“_ Antes de fechar a casa,
desamarrem aquele cachorro que está no quintal e levem-no para o meu gabinete –
referindo-se ao animal de estimação que Prestes havia ofertado como um presente
a Olga.”
Muller comunicou a Vargas o
resultado da operação e decidiu confirmar junto ao Departamento de Estado
norte-americano a verdadeira identidade de Harry Berger (Arthur Ewert). Sem
sucesso apelou para o cônsul dos EUA em Berlim.
Ewert e Sabo resistiam
milagrosamente à violência dos policiais alemães e brasileiros que os
seviciaram brutalmente. Sua capacidade de resistência surpreendia até aos
torturadores.
No dia 6 de janeiro, Muller
anunciou à imprensa a prisão efetuada 11 dias antes, como sendo resultado das
investigações brasileiras, e negando torturas.
Sucessivamente prenderam Miranda
(secretário-geral do partido comunista) e Elza, sua mulher, notícia divulgada 4
dias depois do fato. Enquanto presos sem acusação ou sem o reconhecimento oficial
de seu aprisionamento, estariam sujeitos também a toda a espécie de torturas.
Olga e Prestes decidem se mudar
novamente, desta vez escolhendo o Méier, um bairro operário que aparentava ser
o lugar ideal: longe da polícia. Lá eles morariam junto com um casal também
comunista foragidos da polícia: Manoel dos Santos e Júlia dos Santos.
Valeram-se da ajuda de Victor Barron, que ainda não havia sido importunado pela
repressão. Levavam uma bagagem discreta e Prestes passaria a manter contato com
Lauro da Rocha, (novo presidente do Partido), através de mensageiros.
O governo norte americano
participou das investigações sobre a “conexão brasileira”, enviando um
investigador: Xanthaky, que falava fluentemente português e espanhol.
A primeira tarefa de Xanthaky
foi interrogar Ewert e Elise. O estadunidense ficou impressionado com o que viu
na cela. Ewert dramaticamente enfraquecido, porém não acrescentou nada ao
investigador, só procurou tirar proveito da situação, pois sabia que enquanto a
visita durasse não haveriam torturas.
Xanthaky, na saída, pediu aos
policiais que transferissem Elise para a cela de Ewert, atendendo ao pedido
deste, e procurou saber mais sobre Prestes. A única informação que conseguiu
colher dos policiais, é de que eles tinham ordens de não trazê-lo vivo.
O investigador transmitiu um
minucioso telegrama ao Departamento de Estado sobre a conversa que mantivera
com Ewert e Elise.
É possível resistir à tortura física?
A polícia descobriu Rodolfo
Ghioldi através de Elvira, mulher de Miranda, que o havia reconhecido. Ele e
sua esposa foram presos num trem que efetivara uma parada em Jacareí. Na
prisão, percebe que Miranda estava ajudando os policiais e assim, de nada
adiantaria mentir. Ele identifica León-Vallée numa foto. Com isso, os policiais
prendem León na esperança de que ele os levasse até Pretes. Rodolfo também deu
o nome e endereço de um americano, Victor Allen Barron (que ainda não
despertava nenhuma suspeita nas forças de repressão), e que foi preso mais
tarde. Tentou se defender mas não conseguiu explicar como tinha tanto dinheiro
sendo um modesto representante da John Reiner & CO, fábrica de motores de
Nova York, e não tinha vendido uma só unidade. Também foi barbaramente
torturado.
A prisão de um autêntico cidadão
norte-americano caiu do céu para a embaixada dos Estados Unidos, que ganhava,
assim, um pretexto legalmente indiscutível para intrometer-se ainda mais nas
investigações da polícia brasileira. A embaixada americana destacou Xanthaky
para que pudesse interrogar Allen Barron, e o encontrou em estado lastimável.
Ele exigiu da polícia brasileira melhores tratos, mas não foi atendido.
Por fim, Ghioldi ofereceu de
presente aos policiais uma informação absolutamente nova: Prestes estava casado
com uma mulher clara, provavelmente estrangeira - pois sempre se comunicava com
ele em francês - e que ficava permanentemente a seu lado. Ghioldi ignorava o
sobrenome da mulher, mas tinha absoluta certeza de seu nome: Olga.
A Ignorância do Poder constituído...
O delegado Antônio Canavarro, a
partir das informações dadas pelo dirigente comunista argentino, Rodolfo
Ghioldi, enviou um ofício ao capitão Miranda Correia solicitando a presença de
Olga de Tal no cartório, para prestar declarações.
Ao receber o recado e as novas
informações, Miranda Correia logo as transmitiu ao chefe da polícia, Filinto
Muller, que era inimigo figadal de Prestes desde a época da Coluna.
Chegou a época do carnaval. O
carnaval daquele ano foi transformado para se adaptar às ordens do chefe da
polícia: não se podia usar máscara ou fantasias e a festa não deveria passar
das 22h. Ainda assim, Olga, que nunca havia visto um carnaval antes, ficou deliciada
com as marchinhas. Foi uma descontração dentro de uma situação penosa, que só
lhe permitia ir ao banheiro à noite, já que este se localizava fora da casa em
que morava, e toda precaução era necessária a fim de que ela e Prestes não
fossem descobertos. Ali, novamente o destino a colocava a cumprir duas tarefas:
uma do partido e outra de seu coração.
O casal se informava acerca do
que estava acontecendo no mundo com o auxílio de Manoel, seu companheiro de
moradia, que lhes trazia jornais incluindo anotações feitas por espiões
comunistas dentro dos presídios. Um deles chamou a atenção: os policiais
começavam a desconfiar da existência de espiões na polícia. Enquanto isso a
polícia continuava a rastrear Prestes por toda a cidade.
A polícia, por informações
tortuosas, resolveu verificar a possibilidade do Méier como último refúgio do
casal Prestes. A chuva era intensa quando os “cabeças de tomate”, apelido que
os cariocas haviam atribuído aos soldados que usavam um chapéu vermelho,
chegaram à Rua Honório. Eles revistavam todas as casas por onde passavam. Ao
baterem à porta de Prestes, dona Júlia foi atender. Ao saber que era a polícia
Prestes tentou fugir, mas a casa estava cercada. Ele foi logo reconhecido, e os
policiais receberam a ordem de entrar atirando. Vários soldados e policiais
civis avançou sobre dona Júlia, de metralhadoras engatilhadas, em direção ao
pequeno corredor por onde Prestes entrara. Foi então que aconteceu algo
inesperado. Uma mulher enorme, vistosa, pula na frente de Prestes, protegendo-o
com o próprio corpo e emite um grito. Não era um pedido de clemência, era uma
ordem:
“_ Não atirem! Ele está
desarmado!” O gesto inesperado os deixou paralisados e salvou a vida do
Cavaleiro da Esperança. Trouxeram o cachorro para reconhecer seus donos. Sem
demonstrar o menor traço de temor, Prestes, que estava de pijamas, pediu a
Galvão para trocar de roupa mas não conseguiu:
“_ O senhor vai assim mesmo.”
Na rua, tentaram colocá-los em
carros separados, mas Olga percebeu que aquilo significaria a morte de Prestes.
Agarrou-se ao marido com tamanha força que não houve a menor possibilidade de
separá-los. Assim, transportaram-nos juntos para a sede da Polícia Central.
Havia tantos policiais a guardá-los dentro do veículo que Olga teve de ir
sentada no colo do marido. O comboio atravessou a cidade despertando os
moradores das ruas por onde passava: sirenes ligadas, tiro para o alto,
garrafas de cachaça correndo nos caminhões que transportavam os 200 soldados
molhados.
Quando desembarcaram no saguão
do edifício, Olga e Prestes foram separados. Miranda Correia informou que eles
seriam ouvidos em salas diferentes. Prestes foi colocado dentro de um pequeno
elevador, sempre acompanhado por policiais armados, e ela levada para outra
sala. Quando a porta gradeada do elevador se fechou, os dois se olharam pela
última vez.
"Suicidado" pela polícia política
Logo ao chegar na policia
central, Prestes foi informado de que Barron o havia denunciado e depois
cometido suicídio. Custa a acreditar. O fato de o suicídio haver ocorrido num
salto de menos de um andar de altura tornam a história ainda menos plausível.
Prestes fica indignado com a notícia do “suicídio” de Barron e, ao ser
interrogado, mantinha o mais estrito silêncio ou, no máximo, respondia
monossilabicamente.
Filinto Muller encontrou
documentos também na casa em que Prestes fora preso, além de algum dinheiro. Em
um desses documentos surgiu o nome “tribunal vermelho”: o processo pelo qual
Elvira ou Garota teria sido justiçada. Elvira fora acusada e encontrada culpada
de traição pelo partido comunista. Interrogada por León-Jules Vallée, foi logo
a seguir executada. Este fato deu ensejo a uma acusação de “assassinato”
imputada a Prestes.
A morte de Barron jamais foi
questionada pela imprensa brasileira. O governo americano montou uma comissão
para apurar os fatos.
Após o esfriamento do caso
Barron, a notícia de que Ewert e Elise estavam sendo torturados chegou à
imprensa. Logo era manchete nos principais jornais do mundo, que cada vez mais
criticavam o Brasil pelo tratamento aos estrangeiros. Em público, os policiais
brasileiros afirmavam que “todos os prisioneiros políticos eram bem tratados.”
Mas não admitiam inspeção nos presídios!
Alianças do Estado Novo com o Eixo
A esposa de Prestes, nos
interrogatórios, insistia em dizer que era brasileira e que se chamava Maria
Vilar. Porém, após as investigações da polícia brasileira junto à GESTAPO,
Polícia Secreta Nazista, descobriu-se tratar de Olga Benario, uma oficial de
alta patente da Terceira Internacional.
Descoberta sua verdadeira
identidade, Olga Benario foi mandada para outro presídio. Lá ficou numa cela
coletiva junto à sua amiga Sabo e outras mulheres que haviam participado direta
ou indiretamente da revolta de 27 de novembro. Ao lado de sua cela ficava uma
cela masculina. Homens e mulheres trocavam informações secretas através de um
orifício na parede, que também servia como veículo à troca de palavras de amor.
Nesta mesma prisão e precisamente à mesma época, também se encontrava Graciliano Ramos.
Nesse período de encarceramento,
Olga se descobriu grávida. Esposa de brasileiro e agora esperando dele uma
criança, sentia-se um pouco mais segura. Em vão. Na surdina se urdia a sua
transferência às autoridades nazistas.
Xenofobia e medo
Para Olga era o pior dos mundos
ir a um governo centrado principalmente no ódio a judeus e comunistas.
Num dos dias de visita na cadeia, Olga soube que
iriam expulsá-la definitivamente e não perdeu tempo em conseguir um advogado,
Heitor Lima, que três dias após a aceitação da defesa proposta por ela entrou
com pedido de habeas corpus pretendendo, com isso, evitar que Olga fosse
entregue ao governo nazista.
O desfecho do pedido não podia
ser mais trágico. O pedido de habeas corpus foi negado e com isso Olga é
enviada grávida para um Campo de Concentração nazista.
Inconformismo
Em função da notícia da
recusa do pedido de habeas corpus de Olga, todos os presidiários
sentiram-se lesados e fragilizados. Há uma tentativa frustrada de rebelião.
Prestes, mesmo preso em um
cubículo, por vezes consegue informar-se acerca do que está ocorrendo com Olga.
Sua mãe e sua irmã, Leocádia e Lígia, em Moscou, sabendo da prisão dele e de
Olga partem para a Espanha, de onde iniciam uma campanha internacional pela
liberação de seus passaportes brasileiros, assim como pela libertação dos
presos políticos do país.
A campanha, contudo, não alcança
os EUA, já em franca oposição ao nazismo, o que seria de fundamental
importância para a conquista do intento das duas idealistas.
Olga, Elise Ewert e Carmen
Ghioldi, foram entregues à polícia política nazista por decreto do governo
Vargas. Aguardando o momento de serem deportadas, amigos das três se
mobilizaram o quanto podiam para evitar a transferência que, se sabia, ser um passaporte
para a morte. Através de cartas e pedidos de habeas corpus, Maria e Luiz
Werneck de Castro tentaram adiar a extradição de Olga, mas em vão. Heitor Lima
também tentou; escreveu uma carta a D. Ivete Vargas, esposa do presidente, mas
de nada adiantou.
A viagem para a Alemanha era
retardada justamente porque se aguardava um navio aliado ao Eixo que fosse
direto, sem escalas, do Brasil à Alemanha. Caso fizesse alguma escala as
prisioneiras seriam libertadas como já acontecera em outras ocasiões. O La
Coruña, navio que seria encarregado de levar Olga e suas camaradas à Alemanha,
atracaria no cais do porto do Rio de Janeiro no dia 23 de setembro de 1936.
Sabendo disso, Filinto Muller organizou toda uma estratégia para transportar
Maria Prestes ao navio.
Carlos Brandes vai até a Casa de
Detenção e convida Olga a sair do presídio com o pretexto de levá-la ao
hospital, para que esta tivesse o filho em segurança. Os detentos não acreditam
em Brandes e passam a abrir as celas, com gazuas, espécie de chaves
confeccionadas por um dos presos, reservada para casos especiais, ou
arrombando-as. Sem conseguirem resistir, os presos ainda conseguiram impor uma
condição, a de que junto a Olga fossem dois outros presos. Não adiantou. Olga
sequer chegou a descer no hospital. O comboio militar seguiu até o cais do
porto sob uma chuva fina. Quando foi retirada da ambulância, ainda deitada na
maca, a caminho da escada do navio, Olga pôde ver, rapidamente, entre os pingos
de chuva, o nome La Coruña gravado no casco. Por um instante, teve esperanças
de estar sendo embarcada num navio espanhol. Mas ao mover a cabeça um pouco,
virou os olhos para cima e viu, tremulando no mastro principal, uma bandeira
com a suástica negra ao centro. Suas esperanças eram cada vez menores.
Uma heroína entre prostitutas e ladras...
Dez quilos mais magra, Olga,
grávida, foi levada para o La Coruña. O investigador João Guilherme Neuman foi
encarregado de escoltá-la. Ele contou a Olga que Elise Ewert também estava
sendo embarcada, na cabine vizinha a ela.
Olga foi embarcada contra as
leis da navegação por estar grávida. Ela pediu que instalasse uma companhia na
sua cabine para a eventualidade de sentir-se mal.
A primeira noite foi de insônia
e vômitos por causa do movimento do navio e do barulho do motor. No primeiro
dia, Olga passou trancada na cabine, no segundo, ela e Sabo colocaram a cadeira
no corredor e ficaram conversando. No quarto dia de viagem o navio chegou a
Salvador; foi uma parada rápida. Com o dinheiro que tinha, Olga comprou algumas
coisas.
No dia 3 de outubro eles
ultrapassaram a linha do Equador. Olga e Elise receberiam autorização após o
jantar para olhar pelas escotilhas o dirigível alemão Zeppellin.
Na noite de 12 de outubro o La
Coruña foi surpreendido com a presença de outro navio, mas era apenas um barco
português perdido em alto-mar.
Às seis horas da manhã do dia 18
de outubro o navio atraca em Hamburgo. A tropa de choque nazista estava ali
para receber Olga e sua amiga.
Pouco depois do meio-dia Olga
chega a Berlim. Vai diretamente para a temida prisão de mulheres. Chegando lá
ganhou a roupa padrão das prisioneiras e teve a cabeça raspada. A cela era um
cubículo de dois metros por dois e com um colchão fino sobre uma laje de concreto.
Olga ainda não tinha chegado a
Hamburgo quando Lígia e Dona Leócadia receberam uma carta contando o que
acontecera à esposa de Prestes. No dia 11 de novembro foram ao quartel-general
da polícia secreta, para ver a mulher de Prestes, mas o máximo que conseguiram
foi deixar comida e roupas. Voltaram à França com a vaga promessa que seriam
avisadas sobre o nascimento do bebê.
Na madrugada de 27 de novembro
de 1936, exatamente um ano após a fracassada revolução, nasceu Anita Leocádia,
um bebê gorducho e saudável.
Só no começo de fevereiro,
quando Anita entrava no terceiro mês de vida, Dona Leocádia e Lígia souberam de
seu nascimento. O ofício da Cruz Vermelha transmitiu à avó o risco que a
garotinha corria: assim que o leite da mãe secasse, ela seria entregue a um
orfanato nazista.
A campanha organizada a partir
da França passou a reclamar desde então, a libertação de Prestes, no Brasil e
de Olga e Anita, na Alemanha. Dona Leocádia e Lígia se juntaram à irmã de
Ewert.
No Rio de Janeiro, o jovem
advogado Heráclito Sobral Pinto, cristão militante, resolve por conta própria
defender Prestes e Arthur Ewert frente ao Tribunal de Segurança Nacional.
Prestes rejeita a oferta de
defesa alegando que Sobral é um homem de mentalidade burguesa sem capacidade ou
desejo efetivo de defendê-lo. Sobral Pinto não desistiu, recorreu a mãe de
Prestes para que conseguisse convencer o filho a aceitar a sua defesa. Meses
depois Prestes recebe um bilhete de sua mãe e acaba mudando de idéia.
A primeira intervenção de Sobral
Pinto foi tentar parar com as torturas a Ewert utilizando-se até mesmo do
Código Defesa dos Animais – tal o nível em que se encontrava o alemão. Também
consegue para Prestes o direito de receber cartas de sua mãe: foi através de
uma delas que ele soube do nascimento de sua filha.
A família intervém!
A notícia de que era pai e de
que Olga estava viva deu novo ânimo a Prestes, além disso, Sobral Pinto
conseguiu encaminhar suas respostas às cartas recebidas.
Em junho, Olga recebera novas
notícias do marido. No dia 8 de maio Prestes fora condenado pelo Tribunal de
Segurança Nacional a 16 e 8 meses a prisão; Arthur Ewert, a 13 anos.
Em julho de 1937, Dona Leocádia
retornou a Alemanha para tentar negociar com a GESTAPO a libertação de Olga e
Anita. Mas eles não aceitaram sequer discutir o assunto, pois não consideraram
nenhum parentesco entre Olga, Anita e Dona Leocádia. A única pessoa que talvez
pudesse ajudá-la era a mãe de Olga.
Dona Leocádia viajou para a
capital da Baviera. Ao chegar na casa da mãe de Olga, encontrou uma mãe que
rejeitava a própria filha...
Poucas semanas após o nascimento
de Anita, Olga conseguiu enviar um requerimento à embaixada brasileira pedindo
o registro da recém-nascida como cidadã brasileira.
O advogado Sobral Pinto tentou
levar o tabelião para que Prestes assinasse o requerimento de paternidade mais
foi impedido pela justiça. À medida que o tempo passava a angústia ficava
maior: a qualquer momento os nazistas poderiam tirar Anita de sua mãe.
Sobral Pinto, sempre persistente
e insistente, conseguiu levar o tabelião à cela de Pestes. Logo depois de
Prestes assinar o requerimento ele o enviou à Alemanha e, com ele, Dona
Leocádia e Lígia conseguiram tirar pelo menos Anita da mão dos nazistas.
Para Olga, é o fim, mas para Anita há esperança!
Anita foi suprimida de
Olga sem que lhe dissessem uma única palavra sobre o destino da filha – quando
a tarefa de alguém é atormentá-lo, o esmero por vezes conquista refinamentos de
crueldade. Ficou traumatizada, debilitada emocionalmente, quase enlouquece.
Acreditava que Anita havia sido enviada a uma creche nazista. Aos pouco foi se
recuperando e voltou a praticar atividades físicas e mentais.
Depois de um mês ela recebeu a
carta de Dona Leocádia informando que sua filha estava bem e com ela. Olga
ressuscitou e voltou a sonhar com a liberdade!
Nos primeiros dias de março ela
foi transferida para uma nova prisão: a fortaleza de Lichtenburg. Ao chegar lá
foi conduzida a uma solitária. No sexto dia de solitária recebeu a visita
clandestina de Gertrud Fruchulz, uma velha amiga de Neukölln. Ela trazia
alimentos para Olga, falou da fortaleza de Lichtenburg e contou que sua amiga
Elise Ewert, Sabo, estava ali.
Olga as semanas seguintes sem
receber qualquer notícia. Manteve-se mental e fisicamente ágil jogando xadrez
mentalmente e praticando exercícios físicos.
Quando saiu da solitária seu
primeiro desejo foi ver Sabo: estava magra, tuberculosa e totalmente diferente.
Durante os quase dois anos em
Lichtenburg ela seria levada várias vezes a Berlim para novos a atormentadores
interrogatórios.
O Campo de Concentração
O Comboio que levava Olga sai de
Lichtenburg rumo ao norte.
A índole belicosa dos nazistas os
levou a promover uma mudança no sistema prisional da Alemanha, transformando as
cadeias em estruturas a um só tempo penais e “produtivas para a economia do
Reich.”
Assim que chega ao campo de
concentração, Olga percebe organização e rigidez extremas. As mulheres eram
classificadas por um triângulo colocado no braço ou no peito, através do qual
se identificava o motivo de seu aprisionamento. Ela não foi identificada como
comunista, mas como anti-social, assim como o eram as prostitutas e ladras
comuns.
Pela sua capacidade e ascendência
moral, Olga recebeu dos carcereiros a missão de organizar seu local de moradia
e trabalho. Isso pelo menos traz alguma ocupação útil ao espírito. Instalou
hábitos de higiene e levou um reforço à auto-estima das outras presas
escrevendo até mesmo uma apostila rudimentar, com ilustrações e mapas através
da qual contava sua história e falava sobre os caminhos do mundo. A seguir,
intimada a depor em Berlim, escreve um bilhete para a sogra.
Grandes indústrias alemãs
utilizavam os prisioneiros dos campos de concentração em trabalhos forçados.
Olga recebe a notícia de que Sabo
não resistiu a tuberculose que se agravou depois da chegada do inverno e
morreu, tendo finalmente um fim a seus traumas e suas lembranças da tortura.
Descansou...
O Reichfürere SS Heinrich Himler,
em visita aos campos de concentração, ordenou que as presas fossem trancadas em
suas celas. Durante a inspeção, uma mulher o xingou e ele ordenou que 80
mulheres fossem punidas como forma de aviso. Dentre as escolhidas para o
castigo estava Olga Benario, violentamente chicoteada.
Certa feita uma prisioneira
delatou Olga a respeito do curso de conscientização política que na prática
ministrava, mesmo que em condições ainda menos que precárias e ela foi
novamente torturada. Em outra oportunidade chegou mesmo a dirigir a encenação
de uma peça de teatro escrita e dirigida pelas prisioneiras. Tudo foi
descoberto e as presas foram levadas a passar a noite sem agasalho, no palco,
sob o rigoroso inverno, etc.
Olga em seus momentos finais
O Campo de Concentração já não
era unicamente feminino, chegaram prisioneiros.
As notícias vindas por parte de
prisioneiras recém-chegadas se opuseram ao otimismo de Olga: Hitler havia
conquistado boa parte da Europa.
A situação nos campos de concentração
era de terror cada vez mais crescente. Insalubridade não apenas psicológica ou
do ponto da violência física direta: Olga contraiu uma virose que quase lhe
tirou a vida. Mulheres eram executadas sem motivos plausíveis. Além disso surge
mais um agravante: a chegada de médicos para realizarem experiências genéticas
com as presas.
O vírus da tuberculose era
disseminado pelos médicos, e a todo momento mulheres morriam, assassinadas
pelos médicos. Dizendo tratar-se de um vírus letal, eles aplicavam constantemente
a eutanásia. Os médicos faziam outras experiências a respeito de doação de
órgãos e de defesa do organismo, usando as prisioneiras como cobaias.
Aquelas perversões tratadas como
pesquisas médicas não seriam o fim da loucura nazista. Até então as
execuções praticadas em Ravensbruck vinham sendo feitas individualmente.
No começo do inverno de 1942 começaria a “Solução Final”, o extermínio
sistemático e deliberado de judeus e comunistas. Segundo notícias que
corriam entre os presos, o médico Fritz Menennecke ali estaria com a função de
selecionar as mulheres que poderiam ser utilizadas como mão-de-obra escrava e
as que seriam eliminadas nas câmaras de gás e nos fornos crematórios.
Quando as primeiras levas de
prisioneiras de Revensbruck foram removidas, as remanescentes ficavam em
dúvida: estariam sendo transferidas para outros campos ou seriam
eliminadas. Elas combinaram que cada uma levaria um toco de lápis e um
papel onde deveriam colocar o nome do local para onde estavam sendo transferidas.
Colocariam na barra da saia. A volta do caminhão trazendo as roupas
usadas pelas mulheres transferidas repetiam o mesmo nome: Bernburg.
Uma cidadezinha situada a 100
quilômetros a sudoeste de Berlin, Bernburg tinha apenas um prédio mais imponente
que a Igreja Luterana: um hospital para tratamento de doenças mentais.
Neste hospital, seis dos 15 prédios de cindo pavimentos do hospital
psiquiátrico foram ocupados por ordem de Himmler e transformados em Propriedade
do Reich - camuflando as atividades que as SS passariam a exercer ali.
No subsolo do Hospital foram
construídos amplos cômodos com as paredes e o chão revestidos de azulejos
brancos de cujo teto pendiam chuveiros. Parecia um local para banho
coletivo. Nascia a invenção macabra do nazismo: a primeira câmara de
execução em massa de prisioneiros através de asfixia por gás. O primeiro
teste foi realizado com os próprios alemães, soldados que se negaram a
bombardear posições republicanas na Espanha, considerados desertores, foram punidos
com a morte por inalação de “Zyklon – B”.
No começo de fevereiro de 1942,
um pouco antes de Olga completar 34 anos, as mulheres foram reunidas no pátio
central de Revensbruck para ouvir nos autofalantes do campo a relação das 200
prisioneiras que na manhã seguinte seriam “transferidas para outros campos de
concentração”. Eram chamadas em ordem alfabética. Olga
Benario Prestes seria a de número 150. Junto com ela iriam as amigas
Tilde Klose, Irena Langer e Rosa Menzer.
Os autofalantes davam um último
aviso: as prisioneiras relacionadas teriam 30 minutos para recolher seus
pertences e se apresentar para o embarque. Meia hora foi o suficiente
para que Olga escrevesse uma carta à filha e ao marido.
Dez dias depois, quando o
caminhão voltou com as roupas das mulheres embarcadas naquela noite, Emmy
Handke correu a procurar o vestido de Olga. Apalpou a barra e dela tirou
um pequenino pedaço de papel onde estava escrita apenas uma palavra:
Bernburg.
Guerra e Redemocratização
Vargas era uma raposa ladina. Contava
em seu ministério com simpatizantes do Eixo e simpatizantes dos aliados. Abriu
conversações com ambas as forças e buscou extrair o máximo de cada uma. Os EUA
– aliados da URSS na Guerra –, após muita negociação e diálogo, fizeram a
melhor oferta: a construção da Companhia Siderúrgica Nacional e a de bases
militares no Nordeste, em troca de apoio durante o esforço de Guerra,
revertendo as instalações ao governo brasileiro quando esta chegasse ao final.
Ao término da Segunda Guerra Mundial, o governo brasileiro solicita um
reatamento de relações diplomáticas com a União Soviética. Mulheres, estudantes
e profissionais liberais organizam comícios em todo país, exigindo a concessão
imediata de anistia política aos presos e exilados.
Getúlio Vargas promete convocar
eleições ainda naquele ano. Dutra apresenta-se como candidato governista à
Presidência e inclui na sua plataforma uma inacreditável bandeira: a legalização
do Partido Comunista. Agora a reivindicação das ruas é pela anistia e pela
convocação da Assembléia Nacional Constituinte.
Em 18 de abril, Vargas assina um
decreto que concede anistia aos presos políticos. Antes mesmo que o ato fosse
publicado no Diário Oficial, os cinco primeiros beneficiários da medida deixam
as prisões. Dentre eles estava Luís Carlos Prestes que ao sair pergunta sobre o
destino de Olga e de seu amigo Arthur Ewert, que tinha sido beneficiado pela
anistia mas, torturado até a loucura, talvez não tivesse condições de desfrutar
da liberdade pois estava internado num manicômio no Rio de Janeiro. Quanto a
Olga, não tinha nenhuma informação. Naquele momento, porém, quem elogiava o
presidente da República era Luís Carlos Prestes que havia sido vitimado pela
repressão dirigida por Vargas. A primeira reação contra o apoio de Prestes a
Vargas parte de seu antigo advogado Heráclito Sobral Pinto que condena qualquer
união nacional com o senhor presidente.
A primeira manifestação dos
comunistas após longo período na ilegalidade ocorreu estádio do Pacaembu, em
1943 e teve a participação de grandes intelectuais e de uma grande massa
popular. Depois da manifestação foi em direção à estação Roosevelt, onde
tomaria um trem de volta ao Rio de Janeiro.
Um
Telegrama dos aliados e uma carta de Olga
Cercado de amigos ele se
preparava para subir a escada do vagão-leito, quando um jovem chegou correndo,
abrindo passagem entre os que se despediam do chefe comunista:
_ Capitão! Capitão Prestes! Um
momento, não embarque!
Temeu-se uma tentativa de
agressão, mas o rapaz se identificou:
_ Sou repórter da agência de
notícias United Press. Nós tínhamos pedido às sucursais européias que buscassem
informações sobre Olga Benario, e acabamos de receber este telegrama sobre ela,
enviado pelo correspondente em Berlim.
Ansioso, Prestes levou o pedaço
de papel aos olhos e leu-o com o rosto crispado, diante do silêncio dos amigos
que o fitavam. Levantou a cabeça e disse apenas três palavras:
_ Olga está morta.
Era um despacho curto, sem muitos
detalhes:
“Berlim - As autoridades aliadas
acabam de informar que entre as 200 mulheres executadas na câmara de gás da
cidade alemã de Bernburg, na Páscoa de 1942, estava a senhora Olga Benario,
esposa do dirigente comunista brasileiro Luís Carlos Prestes.”
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Prestes entrou no que já começava
a se movimentar rumo ao Rio de Janeiro, caminhou por entre as poltronas em
silêncio, sentou-se e leu mais uma vez a notícia, antes de guardar o papel no
bolso do paletó.
Só muitos anos depois é que ele
receberia a última carta que Olga escrevera a ele e à filha, ainda em
Ravensbrück, na noite da viagem de ônibus que a levaria à morte em Bernburg.
Transcrevo literalmente pela beleza da peça e para que se possa conhecer melhor
o coração da mulher.
“Queridos:
Amanhã vou precisar de toda a
minha força e de toda a minha vontade. Por isso, não posso pensar nas coisas
que me torturam o coração, que são mais caras que a minha própria vida. E por
isso me despeço de vocês agora. É totalmente impossível para mim imaginar,
filha querida, que não voltarei a ver-te, que nunca mais voltarei a
estreitar-te em meus braços ansiosos. Quisera poder pentear-te, fazer-te as
tranças - ah, não, elas foram cortadas. Mas te fica melhor o cabelo solto, um
pouco desalinhado. Antes de tudo, vou fazer-te forte. Deves andar de sandálias
ou descalça, correr ao ar livre comigo. Sua avó, em princípio, não estará muito
de acordo com isso, mas logo nos entenderemos muito bem. Deves respeitá-la e
querê-la por toda a tua vida, como o teu pai e eu fazemos. Todas as manhãs
faremos ginástica... Vês? Já volto a sonhar, como tantas noites, e esqueço que
esta é a minha despedida. E agora, quando penso nisto de novo, a idéia de que
nunca mais poderei estreitar teu corpinho cálido é para mim como a morte.
Carlos, querido, amado meu: terei que renunciar para sempre a tudo de bom que
me destes? Conformar-me-ia, mesmo se não pudesse ter-te muito próximo, que teus
olhos mais uma vez me olhassem. E queria ver teu sorriso. Quero-os
a ambos, tanto, tanto. E estou tão agradecida à vida, por ela haver me
dado a ambos. Mas o que eu gostaria era de poder viver um dia feliz, os
três juntos, como milhares de vezes imaginei. Será possível que nunca
verei o quanto orgulhoso e feliz te sentes por nossa filha?
Querida Anita, Meu querido
marido, meu garoto: choro debaixo das mantas para que ninguém me ouça pois
parece que hoje as forças não conseguem alcançar-me para suportar algo tão
terrível. É precisamente por isso que me esforço para despedir-me de vocês
agora, para não ter que fazê-lo nas últimas e difíceis horas. Depois
desta noite, quero viver para este futuro tão breve que me resta. De ti
aprendi, querido, o quanto significa a força de vontade, especialmente se emana
de fontes como as nossas. Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor do
mundo. Prometo-te agora, ao despedir-me, que até o último instante não terão
porque se envergonhar de mim. Quero que me entendam bem: preparar-me para a
morte não significa que me renda, mas sim saber fazer-lhe frente quando ela chegue.
Mas, no entanto, podem ainda acontecer tantas coisas... Até o último momento
manter-me-ei firme e com vontade de viver. Agora vou dormir para ser mais forte
amanhã. Beijos pela última vez.
Olga.”
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