Fé e razão
Fé e a Razão
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O
antagonismo existente entre a crença religiosa e a razão tornou-se evidente
muito cedo na cultura ocidental.
As maledicências à religião perpetradas pelos
filósofos Heráclito, Pitágoras
e Xenofánes, marcaram o rompimento entre as duas.
Atenas obrigou o filósofo Anaxágoras a pôr-se em fuga para impedir que fosse
condenado publicamente, suspeito de “conceber um novo deus”.
Giordano Bruno – teólogo e filósofo de
origem italiana – assegurava que “O uno é forma e matéria, figura de natureza
inteira, operando de seu interior”, e acabou morrendo na fogueira por esta
afirmação
Para aquele que tem fé
religiosa Deus existe, porém para a filosofia não basta ter fé, é
preciso evidenciar que Ele existe de verdade. Para os fervorosos, Deus é um ser
perfeito, dotado de bondade e filantrópico, que penitencia os maus e gratifica
os bons.
O poder espiritual aceita que Deus aja no universo
efetuando milagres; para a filosofia, é necessário demonstrar com fatos,
testemunhos, documentos, etc, que o espírito tem a faculdade de exercer
influência sobre a matéria, e responder por qual motivo Deus, que tudo sabe,
sendo capaz de realizar milagres, deixaria pendente o ordenamento do mundo
criado por Ele mesmo. Uma vez completo, absoluto e infinito, por qual motivo
instituiria um universo não espiritual, finito e defeituoso?
Para o seguidor de uma religião o espírito é
imortal e predestinado a uma existência prometida; a filosofia exige provas
dessa eternidade.
Para concorrer com as indagações da filosofia, o
Cristianismo transformou-se em Teologia
– ciência que versa sobre Deus -, converteu os textos da história santificada
em teoria, feito que nenhuma outra religião conseguiu realizar.
Não obstante este feito há certas crenças
religiosas que nunca poderão ser compreendidas por meio do uso da razão, sem
serem extintas. Não há uma maneira de provar que Deus tenha conversado com
Moisés no Sinai, assim como também não há provas lógicas da virgindade de
Maria, da Santíssima Trindade, etc. São
credibilidades fincadas pela fé e por isso tornam-se enigmas que não podem ser
questionados, transformando-se, assim, em dogmas. Por este motivo, Paulo diz
que “a fé é um escândalo para a razão”.
Há uma passagem na Bíblia
que conta que Josué fez o sol parar com o objetivo de ganhar uma
luta; deduz-se por esta passagem que o sol se move em torno da terra, a qual
está inerte. Por se tratar de uma passagem da Bíblia, ela se torna
incontestável.
Essa “verdade” é contestada pela ciência de Copérnico, Galileu e Kepler. Pela Igreja, eles
poderiam até contrapor uma teoria de cunho filosófico-científico conhecida como
Geocentrismo, mas a história de Josué
jamais poderia ser colocada sob dúvida.
Por este motivo, a Igreja avaliou o Heliocentrismo – doutrina que concebe o sol
como centro do sistema solar – como um disparate, um contra-senso. Tal ciência
foi rejeitada e punida e levou sábios, como Galileu Galilei, ao julgamento do
Santo Ofício.
Historiadores, pessoas versadas no estudo das
línguas ou da lingüística, e até mesmo antropólogos, realizaram pesquisas a
respeito das tradições de toda a região que abrangia o Oriente Médio e o norte
da África, e nela encontraram alusões incessantes ao pão, ao vinho, ao cordeiro
sacrificado e ao deus que foi morto e ressuscitou.
Estes elementos integravam os costumes agronômicos
destes locais, acompanhados de cerimoniais de fecundidade da terra e de
animais, ritos muito análogos aos que passaram a ser praticados na missa
cristã.
Por esse prisma, o cerimonial praticado na missa
faz parte de um hábito agrário, oriental, africano, muito precedente ao cristianismo.
Contudo, esta descoberta científica vai contra as
veracidades cristãs, visto ser a missa pensada como uma ciência que trata das
cerimônias e ritos da Igreja, a qual reproduz e relembra um conjunto singular e
novo de eventos que dizem respeito à vida, paixão e morte de Jesus.
A religião trata a filosofia como a ciência do
contra-senso e da incredulidade, e a filosofia, por sua vez, denuncia que a
religião é a única detentora da verdade, além de ser preconceituosa,
desatualizada e intransigente.
O que se conclui após esse embate entre a fé e a
razão, a filosofia e a igreja, é que a verdade com certeza não se encontra
na posse de nenhuma das duas doutrinas, mas é uma conquista progressiva do
conhecimento científico, aliado ao saber religioso.
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